RYUUOU NO OSHIGOTO! – VOLUME 1 – CAPÍTULO 4 (PARTE 1)



• VIDA COM UMA APRENDIZ


“Desculpa, mestre! Você esperou?!”

“Não, eu acabei de chegar aqui.”

Eu estava em frente a uma loja no primeiro andar da sede da associação, lendo um livro de Shogi quando Ai desceu da sala de aula no segundo andar. Eu a cumprimento.

Faz uma semana desde que ela chegou.

Estar com a minha aprendiz todos os dias se tornou minha rotina.

Nós dois trazemos almoços para a associação pela manhã.

Ai vai para a sala de aula do segundo andar para se preparar para o teste da Liga de Treino, enquanto eu subo para o terceiro para estudar as mais recentes estratégias de Shogi.

Quando nossos horários estão alinhados vamos juntos ao parque para almoçar.

Nos encontrarmos para voltar à noite para casa se tornou nossa rotina padrão.

“Nossa. Parece que vocês dois são um jovem casal indo para um encontro.”

A mulher bonita que seguia Ai pelas escadas viu nosso encontro e sorriu para nós como uma deusa.

É a filha do meu mestre Kousuke Kiyotaki 9-dan, Keika Kiyotaki.

Ela está atualmente na liga de treino e está se esforçando para ajudar Ai a se preparar para o teste.

“Desculpe pelo problema, Keika. Eu sei que você já é muito ocupada ajudando o Mestre na sala de aula.”

“Ah, tudo bem, tudo bem.”

Keika acena com entusiasmo.

“Se eu não sair de casa de vez em quando assim. Eu nunca vou chegar ao C1, talvez agora eu consiga?”

Cada membro da Liga de Treino tem uma classificação.

Eles vão de “F” a “A” com “S” sendo o topo. As pessoas em “F” ainda são novatas, talvez em torno de amadores 2-dan em termos de habilidade.

É preciso que chegar ao C1 para se tornar uma jogadora da Liga das Mulheres, Keika está em C2.

Ela está tentando romper a última barreira há anos.

“Eu já tenho 25 anos. Esse é o limite de idade daqui.”

Jogar contra crianças talentosas como Ai me dará um impulso extra.”

Keika começou a levar o Shogi a sério em seu último ano do ensino médio.

Desde que ela ingressou na liga de prática para se tornar uma jogadora da liga feminina logo após se formar, ela se tornou oficialmente uma das aprendizes de mestre muito depois de mim e da Ane. É por isso que Keika é tecnicamente minha “irmãzinha”. Nossa árvore genealógica de mestre/aprendiz é realmente complicada.

“Oh, está certo. Ai, você foi promovida na sala de aula hoje, não foi?”

“Sim! Agora sou uma amadora 3-dan!”

“Ohh? Que bom.”

Ai orgulhosamente me mostra seu cartão de registro. ──Ela sorri, fechando alegremente os olhos enquanto eu dou um tapinha na cabeça dela. Afinal, tenho que elogiar uma aprendiz esforçada!

“Sabe a ideia que tive? Vou comprar algo para você comemorar.”

“Você vai?! Yippee!”

“Algo barato, entendeu? Barato. Quinhentos ienes ou menos.”

Observando Ai dançar de alegria a caminho da loja, não pude deixar de me sentir feliz.

É estranho.

Ver as estrelas de vitórias de alguém ou ver alguém ser promovido me deixava com ciúmes há pouco tempo, mas estou tão feliz com a promoção de Ai como se fosse a minha. Isso é bom, honestamente.

Talvez eu esteja dando os primeiros passos para a vida adulta?

“Ela está subindo muito rápido”, Keika diz em voz baixa bem ao meu lado, para que Ai não pudesse escutar.

“Qual é a sua impressão dela, indo cara a cara?”

“Ela está ficando mais forte a cada jogo. Não, é como se ficasse a cada movimento. Eu sei que ela é muito talentosa.”

Uma leve sombra cobre o seu rosto com essas palavras.

“…Se eu tivesse iniciado no Shogi com a idade dela ■■■”

“……”

Não tinha nada que eu pudesse falar sobre isso.

O mundo do Shogi é dominado pelo talento. E quanto mais jovem o talento é desenvolvido, mais ele cresce.

Claro, existem alguns profissionais que descobriram o Shogi só no ensino médio.

No entanto, o número esmagador de jogadores, inclusive eu, tinha a mente focada em se tornar um profissional desde a escola primária. Desenvolvemos nosso talento e habilidade jogando contra outros prodígios por todo o Japão.

“Mestre, mestre! Esse! Você pode comprar esse para mim?!”

Ai escolheu um chaveiro de Shogi de uma Torre (quatrocentos ienes + impostos).

“Tudo bem, mas você tem certeza que quer esse? dizem que o Cavaleiro traz sorte.”

“Gahhh! Não consigo decidir (>_<).”

Minha aprendiz grita alegremente apertando um chaveiro em cada mão. Bonitinha, muito bonitinha.

Keika assiste com um sorriso suave no rosto e me diz:

“E? Yaichi, o que você vai comprar para a Ginko?”

“Pode repetir?”

Essa é uma pergunta estranha.

“Por que preciso comprar algo para a Ane? Tenho certeza que ela é quem deveria comprar as coisas para mim, já que sou o aprendiz mais jovem.”

“• • • Você que sabe, Yaichi”, Keika solta um longo suspiro antes de seu tom ficar um pouco mais nítido, “se você vai comprar algo para Ai, você deveria comprar algo semelhante para a Ginko. As coisas vão ficar tensas se você não preservar o equilíbrio.”

“Sério?”

“Sério.”

Já que ela diz.

“A Ginko está realmente estressada desde que Ai chegou aqui. Ela não é mais a Branca de Neve, agora parece mais como a rainha Elsa saindo do castelo. Você não pode mudar decisões erradas, sabia?”

“Mas se mesmo errando eu virar o jogo no final ■ ■ ■”

“Shogi não se aplica ao mundo real.”

Entender as mulheres é tão difícil quanto o Shogi. Mesmo uma eternidade não seria suficiente para entender completamente qualquer um deles.

“Meu deus, por que vocês dois são tão interessados no Shogi, que não fazem ideia sobre o sexo oposto…”

“Eu, hum, gosto muito de você, Keika?!”

“Claro, claro.”

Ela me ignorou como se fosse nada!

Convidei ela para comer conosco, mas Keika disse que “Precisa ir cuidar de seu pai”, e saiu imediatamente.

Aparentemente, o Mestre continua fazendo compras pela Internet descontroladamente quando fica sozinho por muito tempo.

“Mestre? Você vai comprar mais um?”

“─Não.”

Coloquei o chaveiro que peguei de volta na prateleira.

Eu conheço a Ane melhor do que ninguém. Por isso tenho certeza que é melhor assim.





• MESTRE DO CURRY


(Tradutor: caso você não esteja entendendo nada aqui igual eu, recomendo ler isto: https://en.wikipedia.org/wiki/Shogi_notation)

“Peão 5 Quatro.”

Também ajudo Ai a se preparar para o teste da Liga de Prática durante nossa caminhada de volta para o apartamento.

“Eu movo Peão 4 Seis!”

“Prata 5 Três.”

“Peão 4 Cinco.”

“Ouro 3 Dois.”

“Peão 3 Seis.”

“Rei 5 Dois.”

“Peão 3 Cinco!”

Estamos jogando Shogi cego (Blind Shogi) para praticar.

Várias pessoas olham e encaram enquanto passam, sem ter ideia do que estamos falando. Mas não é tão difícil de jogar quando você já atingiu um certo nível. Ai já tem uma mesa de Shogi gravada na cabeça, então isso deve ser fácil para ela.

E nós estamos apenas refazendo o inicio de um jogo padrão, então é mais um teste de memória do que qualquer outra coisa.

“E se eu mover Prata 2 Dois?”

“Prata 4 Oito!”

“Ouro 6 Dois.”

“Prata 4 Sete.”

“Peão 6 Quatro. Agora o que você faz?”

“Eu movo Torre 3 Oito!”

“Exatamente! Mudar para Torre Lateral e focar seus ataques nas linhas 3 e 4 é chamado de Padrão Avançado de Dois Peões”.

Jogadores avançados quando jogam com jogadores menos experientes com desvantagens, vão jogar sem suas peças mais fortes, a Torre e o Bispo.

Os dois estilos padrões desses jogos são Avançado de Dois Peões e Prata Tandem.

Parece que o estilo de jogo de Ai se alinha mais com o estilo atacante e implacável de Dois Peões, em vez de preferir fortalecer as defesas com a torre no meio do tabuleiro antes de atacar com Prata Tandem.

Mas ter uma boa defesa também é importante.

“Me diga qual é a sua melhor maneira de cercar o Rei!”

“Prata 6 Oito, Peão 6, Ouro 7 Oito, Ouro 6 Quatro, Rei 6 Nove, Cavaleiro 7 Três e Ouro 5 Oito!”

“E essa formação é chamada?”

“Kyanigakooi!!”

Isso é Kani Gakoi, o Castelo do Caranguejo.

“Boa. Você acha que tem um consegue controlar bem partidas normais em desvantagens?”

“Sim! Compreender o início do jogo deixa a vitória mais fácil! ”

“É isso.”

Nada deixa um Mestre mais feliz do que ver seu aprendiz crescer.

Como bônus, não estou indo tão mal nas minhas próprias partidas. Ganhei duas seguidas. Duas!

Alguém que detém um título não deveria ficar tão empolgado com vitórias consecutivas, mas depois de me sentir no fundo do poço com tantas derrotas consecutivas, o mundo agora parece outro para mim.

“Ai, alguma ideia para o jantar esta noite?”

“Eu estava pensando em fazer curry… Você gosta de curry, Mestre?”

“Ah sim. Parece bom. Devemos comprar alguns ingredientes no caminho para casa?”

“Por favor! Vou presentear você com um verdadeiro curry de Kanazawa!”

Paramos em um pequeno supermercado na entrada do bairro comercial, compramos o que precisamos e fomos para casa começar a cozinhar.

Ai disse: “Vou cuidar de todo o trabalho doméstico enquanto estiver aqui! Pode deixar comigo!”

Isso é com certeza admirável, mas eu não me sentiria bem com isso. Que tipo de monstro faria uma estudante do primário limpar tudo e cozinhar sozinha?

Então, decidimos dividir as tarefas.

“Tudo certo! Vamos fazer isso!!”

“Vamos começar!”

Nós dois trabalhamos ombro a ombro na cozinha.

Ai precisa de um banquinho para usar a bancada porque ela é muito baixa, mas a habilidade dela com a faca é tão boa quanto de um adulto. Crescer em uma pousada fez bem para ela nisso.

Sério, a habilidade dela deixaria a Ane envergonhada. Então, isso prova mais uma vez que não posso chamar o que Ane faz de ‘cozinhar’.

As habilidades culinárias de Ai são perfeitamente afiadas, mesmo quando se trata de fazer curry.

Ela descascava e fatiava batatas cerca de cinco vezes mais rápido do que eu cortava as cenouras, e começou a cortar o repolho mais rápido do que eu conseguia ver.

Hã?

“…Repolho?”

“O curry de Kanazawa sempre leva repolho.”

Repolho com curry… Bem, isso pode dar certo! Uma explosão refrescante em cada mordida, talvez?

Em seguida, ela ferve todos os ingredientes cortados cuidadosamente antes de jogá-los todos em uma panela grande para ferver.

Borbulhando e borbulhando

Ai faz alguns quebra-cabeças de Shogi enquanto esperamos (a comida quase queimou).

Agora é só adcionar um pouco de curry em pó e está pronto para comer!

Ou pelo menos pensei que seria.

“Hmmm…”

Franzindo a testa e semicerrando os olhos, Ai encara a mistura amarelada na panela. O seu rosto é mais intenso do que quando ela estava fazendo os quebra-cabeças de Shogi.

“…Eu deveria saber que o pó de curry comprado em uma loja seria tão claro.”

“Hã? Parece normal para mim!”

“Não, isso não serve. Precisa ser mais escuro. ”

…Mais escuro?

“Mestre. Você tem algum molho? “

“Hã? S-Sim… Estamos em Osaka. Todo mundo tem molhos em casa. “

“Yahh!”

“Ei?! Por que você está derramando tudo no curry?!”

Ai despeja uma quantidade inacreditável de molho diretamente na panela e começa a mexer.

O curry amarelado fica marrom escuro bem diante dos meus olhos.

“Lá vamos nós♪. Essa é a cor que deixa as pessoas com água na boca.”

“……”

Realmente? É realmente assim que funciona?

Ai colocou o fogo no mínimo e continuou mexendo. Mas não é uma mexida qualquer apenas para que as coisas não queimem. Ela está amassando tudo. Gotas de suor escorrem por suas pequenas bochechas. Nunca vi curry ser feito assim…

“Ainda não…está pronto?”

“Não. Precisa de mais um pouco… ”

“Amassar mais?”

“Mais… Tudo precisa virar uma sopa grossa… O que eu não daria por uma panela de pressão agora gayo… Seria tudo muito mais fácil gaine…”

Gayo? Gaine?

Algo está errado? Minha aprendiz está falando coisas estranhas… Ai sussurra baixinho como se estivesse fazendo sua própria sessão de revisão até que finalmente ela sorri e diz “Sim!” Eu acho que isso significa que ela conseguiu?

“Agora sim está bom! Vamos comer!”

“C-Claro! Vamos comer. “

Ai coloca o arroz num prato, cobre com curry, coloca em cima as costeletas de porco que compramos no supermercado, enfeita tudo com repolho e acrescenta mais molho para dar sabor. Sendo um jogador de Shogi e um pouco supersticioso, estou agradavelmente surpreso com o curry katsu de bom gosto da minha aprendiz. Muito bom, de fato.

E, claro, tem um garfo ao lado do meu prato.

“Hã? Vamos comer com garfos?”

“Por que não?”

“As pessoas usam colher para comer curry?”

“Pare de brincar, Mestre. O curry é sempre comido com garfo.”

“É mesmo?”

“Sim, ele é.”

Ok, então tá bom.

A-ha-ha-ha-ha–.

Algo parecia um pouco errado enquanto eu compartilhava uma risada com minha aprendiz, mas movemos nossas mãos e começamos!

Um pouco preocupado em comer curry com um garfo, fiquei surpreso ao descobrir que ele era tão espesso que não era um problema.

Eu levanto o garfo até minha boca e——

“Mestre.”

“Sim?”

“Não se empolgue, tá?”

Hã?

Bem, isso é algo estranho de se dizer antes de alguém comer. De qualquer forma, continuo movendo minha mão que estava a poucos centímetros da minha boca. O sabor do curry me invade.

Uau, isso é muito bom.

O tempero começa lentamente a fazer efeito e…

⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀lenta …




⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀mente …




⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ficando …





“………… Ah ………… O quê ……?”

Acordo com o som do meu garfo caindo na mesa.

Aparentemente, eu desmaiei com o garfo ainda na boca. O curry que estava quente na minha frente esfriou a ponto de formar uma fina camada na superfície.

“Quanto tempo… eu estive fora…?”

“Heehee.”

Ai já terminou o curry e agora está sentada com a cabeça apoiada nas mãos e os cotovelos na mesa, olhando diretamente para mim. Há um sorriso em seus lábios que é tão profundo quanto o sabor deste curry…

Eu olho de volta para o curry como se ele tivesse se tornado minha obsessão depois disso tudo.

Embora eu não tenha ficado tão ‘empolgado’ quanto na primeira vez que experimentei, meu garfo não parou por um segundo. Engolindo e engolindo sem parar. Até que meu prato estivesse completamente vazio.

Eu comi tudo.

Eu nunca senti nada como isso, é como se o curry estivesse me abraçando.

O que diabos é isso… eu sei, é um curry, mas curry não são assim…

“V-Você… colocou alguma coisa estranha nisso…?”

“Ah não, não. Eu não coloquei nada do tipo. Heeheehee. “

“Amanhã… quero comer mais amanhã… e depois de amanhã também… e sempre…”

“Certo! Vou fazer ainda melhor amanhã♪. ”

Eu ficaria vivo depois de comer algo melhor que isso…?

“C… Como foi a sala de aula hoje? Fez amigos?” Pergunto para minha aprendiz enquanto bebo um pouco de água e tento acalmar meu coração batendo. Quem diria que comer curry poderia ser tão emocionante…

O sorriso de Ai deixa de se parecer com o de Buda e sua expressão fica muito mais turva com essas palavras e ela olha para baixo.

“………”

“Algum problema?”

“… Mestre.”

Não me diga que ela sofreu bullying na sala de aula? É muito comum as pessoas se unirem contra recém-chegados. Até mesmo a Ane teve que lidar com um tal grupo chamado Crush Ginko Sora.

(Tradutor: “Você sabe alguma boa tradução para esse trocadilho?”)

É por isso que eu queria ter certeza de que Keika iria cuidar dela…

“Umm… Bem…”

Ai cria coragem para dizer o que pensa, me olha bem nos olhos e faz uma confissão bizarra.

“Aula P-Prática! Você pode dar uma aqui?!”

“…Uma aula prática?”

“Sim!”

Ela olha para baixo novamente e tenta muito explicar seu motivo com uma voz minúscula.

“V…Você sabe, eu, hum… disse para todo mundo que eu moro com você, Mestre… e, bem, um…”

“Então alguém disse ‘quero ver onde Ryuo mora!’ e uma coisa levou a outra. Foi isso que aconteceu?”

“…”

“É claro! Qualquer hora está bom.”

“M-Mestre… Muito obrigado!!”

“Ha-ha-ha. Tabuleiro, peças, relógios. Se você precisar de alguma coisa, me avise”, declaro orgulhosamente para minha linda aprendiz e bato no peito.

Tum-tum

Naquela época, eu não fazia ideia da repercussão que isso teria.

E ainda não.

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